segunda-feira, 15 de abril de 2013

Ameaças à biodiversidade



Vídeos do youtube

O vídeo Crisis of life (1-4), demonstra a vulnerabilidade da Biodiversidade a várias ameaças que colocam em risco o seu valor ecológico, económico e social.
A perda de biodiversidade no planeta não é uma constatação, é um facto. De acordo com CDB (2010), a partir de 2009, 47.677 espécies tinham sido avaliadas, e destas, 36% são consideradas ameaçadas de extinção, enquanto que, de 25.485 espécies em grupos completamente avaliados (mamíferos, aves, anfíbios, corais, caranguejos de água doce, cicadáceas e coníferas), 21% são consideradas ameaçadas. De 12.055 espécies de plantas avaliadas, 70% estão ameaçadas. A imagem1 representa a proporção desde todas as espécies avaliadas em diversas categorias de risco de extinção na Lista Vermelha da IUCN, baseada nos mesmos dados referidos acima.


Imagem1 -Proporção de espécies em diferentes categorias de ameaça (adaptado de CBD, 2010)

De acordo com Myers (1996), a criação de hotspots de biodiversidade, locais de elevada diversidade biológica indígena, permitiu uma pesquisa científica detalhada e uma monitorização mais efetiva. Estes aspetos possibilitaram o estudo detalhado das principais ameaças à biodiversidade, assim como a proposta de soluções para as mesmas.
De acordo com MEA (2005a, 2005b), as principais forças motrizes que contribuem para a diminuição da biodiversidade, e consequentemente, para os serviços ecossistémicos prestados podem ser divididas em diretas e indiretas. Estas forças motrizes, nomeadamente as de origem predominantemente antropogénica, têm aumentado o seu impacto e a sua pressão sobre a biodiversidade
As principais ameaças diretas à biodiversidade são a transformação dos habitats; alterações climáticas, sobre-exploração de recursos, poluição e espécies invasoras.
Em Portugal, por exemplo, de acordo com Proença (2009), a expansão das áreas de cultivo e pastoreio criou áreas e condições de conflito entre as populações rurais e algumas espécies silvestres como o lobo (Canis lupus), cujo acentuado declínio se deve em grande parte à destruição do habitat e à perseguição por parte das populações.
A sobre-exploração de recursos naturais apresenta-se também como um grave problema, nomeadamente em sistemas marinhos, onde a procura crescente provoca o colapso dos recursos pesqueiros regionais. De acordo com MEA (2005a) as reservas de pesca globais foram reduzidas em 90% relativamente aos níveis existentes antes da ação da indústria pesqueira.
O impacto destes fatores varia de acordo com os biomas em questão. Na imagem2, é possível verificar que os ecossistemas marinhos e costeiros estão a ser mais afetados, assim como as florestas tropicais.
  
Imagem2 -Principais forças motrizes da perda de biodiversidade (adaptado de MEA, 2005a)

Os fatores referidos anteriormente estão relacionados com outros que, indiretamente, afetam a biodiversidade, nomeadamente fatores demográficos, económicos, sociopolíticos, culturais e religiosos, científicos e tecnológicos (MEA, 2005a).
De acordo com Domingos (2009), o aumento da população e a inexistência de um plano de urbanização com uma base ecológica causaram impactos profundos em habitats de várias áreas em Portugal.  De outros dos principais factores económicos, que nos últimos anos têm afectado a biodiversidade em Portugal, destacam-se a exploração económica das Forestas, nomeadamente das Forestas de eucalipto, e o turismo e as actividades recreativas (que provocam o aumento da expansão urbanística). Estes exemplos permite uma relação direta entre o crescimento populacional e económico e um dos principais impulsionadores da destruição de habitats, a maior força motriz da perda de biodiversidade em todos os biomas terrestres (imagem2).
As principais causas e impactos da perda de biodiversidade estão identificados e provados em estudos científicos, assim como as recomendações para todos os agentes envolvidos nos processos de negociação, decisão (agências governamentais e não governamentais, empresas privadas e cidadãos). O que falta? Na minha opinião, um consenso e uma implementação efetiva dessas medidas… temática a abordar no próximo post.

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Referências Bibliográficas

•Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) (2010) "Panorama da Biodiversidade Global 3",
•Domingos. T. et al. (2009) "Promotores de alterações nos ecossistemas" pp. 57 - 89. In Ecossistemas e Bem-estar humano - Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment, Escolar Editora.
•Millennium Ecosystem Assessment (2005a) Causes of biodiversity change, pp. 8-10. In Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.
•Millennium Ecosystem Assessment (2005b) What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends, pp. 42-59. In Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.
•Myers, N. (1996) “The rich diversity of biodiversity issues” pp. 125-138. In M. Reaka-Kudla, D.E. Wilson, & E.O. Wilson (eds.) Biodiversity II: understanding and protecting our biological resources, Joseph Henry Press, Washington, D.C.
•Proença, V. et al. (2009) "Biodiversidade" pp. 127 -179. In Ecossistemas e Bem-estar humano - Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment, Escolar Editora.






2 comentários:

  1. Caríssimo João:

    Aproveito que citou a criação de hotspots como uma das estratégias em prol da conservação da biodiversidade para comentar um interessante estudo realizado por Jenkins & Pimm (2006), sobre a definição de áreas prioritárias para a conservação.

    Primeiramente, cabe tecer algumas palavras sobre a importante contribuição de Norman Myers para a ciência da conservação. Ao estudar sobre a distribuição das espécies de plantas no mundo, no final da década de 1980, verificou que há lugares onde há mais diversidade do que outros, sendo que a maior parte dessa diversidade ocorre em uma pequena área da superfície do nosso planeta. Myers constatou que os habitats que sofrem maior destruição são aqueles onde há maiores riqueza e concentração de espécies, e denominou essas áreas de hotspots. De acordo com o seu raciocínio, ao agir e adotar medidas de conservação nessas áreas, mais espécies seriam protegidas a um custo mais baixo. Porém, só identificar que cada hotspot abarca grandes áreas, cujo tamanho médio é 0,70 milhão de Km2, os conservacionistas perceberam que essas são áreas demasiado grandes para implementar ações de conservação, sendo necessário utilizar escalas de avaliação ainda menores, para identificar as áreas prioritárias de cada hotspot e agir sobre elas (Jenkins & Pimm ,2006).

    Jenkins & Pimm (2006) questionam se realmente é necessário ter mais conhecimento sobre a distribuição das espécies para identificar as ações de conservação apropriadas. O estudo que realizaram consistiu no seguinte: compararam as áreas apontadas dentro dos hotspots que carecem de ações de conservação identificadas a partir de um mapa baseado nas espécies e outro nos habitats. O resultado foi que as áreas sinalizadas como de maior prioridade para a conservação são, geralmente, as mesmas apontadas nos dois mapas.

    Ao considerar que as alterações e degradação dos habitats são a principal razão pelo qual a maioria das espécies está ameaçada e que a maioria das espécies ameaçadas encontra-se em habitats também ameaçados, conclui que para identificar se a área é de alta prioridade para a conservação, é suficiente identificar os habitats que são mais ameaçados (Jenkins & Pimm, 2006).

    Neste sentido, Jenkins & Pimm (2006) defendem que “achar cada uma das espécies não é necessário para a conservação agir. Talvez nós só precisemos definir os locais sob maior ameaça. Esses lugares possuirão as espécies que necessitam de proteção”.


    Jenkins C N & Pimm S L 2006, ‘Definindo Prioridades de Conservação em um Hotspot de Biodiversidade Global’, in Rocha C F D et al Biologia da Conservação – Essências, Rima, Ribeirão Preto.





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